Uma vez um ex-combatente da guerra do Afeganistão esteve entre meus amigos. Estava ali, sentado na mesma sala que a gente, mas sua mente não.
Naquele dia fiquei pensando em tudo o que ele talvez tenha passado para se tornar aquela pessoa ausente que vimos, tentei imaginar por onde seus pensamentos iam enquanto as demais pessoas conversavam amenidades e riam de coisas banais.
Tentei entendê-lo. Tentei ter compaixão à suas possíveis dores e vazios.
Achei que entendi.
Hoje, sei que jamais entenderei.
A vida já não se resumia a isso para ele.
Provavelmente aquele vazio aparente estava transbordando questionamentos invisíveis.
Hoje, sei que experiências intensas fazem uma marca profunda em quem somos e no nosso entendimento do mundo.
Já não é possível reconhecer o que era antes.
A vida já não se encaixa como um quebra-cabeças. O antes, carregado de significado, parece já não ter sentido.
E quer saber? Talvez o mais desnorteante nem seja a falta de sentido ou a busca por respostas, mas sim saber que, mesmo que tentem, ninguém jamais entenderá.
As vezes o subjetivo te tira do ar.
domingo, 17 de janeiro de 2016
Dizem que o tempo tudo resolve.
Eu já disse isso inúmeras vezes, inclusive para você.
Inclusive quando queria dizer que não quero que o tempo resolva.
Não quero que o tempo apague nossas memórias, afaste nossos caminhos, confunda nossos sentimentos.
Quero seguir vivendo, mesmo que só aqui dentro, todos nossos momentos.
Quero que seja a realização dos meus primeiros pedidos.
Que seja o dedo do outro lado do fio vermelho.
E, principalmente, que a linha encurte.
Eu já disse isso inúmeras vezes, inclusive para você.
Inclusive quando queria dizer que não quero que o tempo resolva.
Não quero que o tempo apague nossas memórias, afaste nossos caminhos, confunda nossos sentimentos.
Quero seguir vivendo, mesmo que só aqui dentro, todos nossos momentos.
Quero que seja a realização dos meus primeiros pedidos.
Que seja o dedo do outro lado do fio vermelho.
E, principalmente, que a linha encurte.
sexta-feira, 8 de janeiro de 2016
Provavelmente ela sabia se virar melhor estando sozinha de fato.
Sem apoios, sem presença física, sem limites impostos.
Só os seus limites, apenas ela e ela.
Mas, com a solidão na presença de muitos, com isso ela não sabia lidar.
Não sabia ter muita gente e não mais se ter.
Não faz sentido ter as regras e limites do outro e não poder dar asas as suas próprias vontades.
Um vulcão adormecido.
Esperando o próximo baile tectônico.
Sem apoios, sem presença física, sem limites impostos.
Só os seus limites, apenas ela e ela.
Mas, com a solidão na presença de muitos, com isso ela não sabia lidar.
Não sabia ter muita gente e não mais se ter.
Não faz sentido ter as regras e limites do outro e não poder dar asas as suas próprias vontades.
Um vulcão adormecido.
Esperando o próximo baile tectônico.
quarta-feira, 6 de janeiro de 2016
- Oi, tudo bem?
Foi a primeira pergunta da noite.
Pergunta que se repetiu algumas vezes disfarçada em outras palavras:
- Como você está?
(...)
- Então, mas e você?
(...)
- Tá tudo bom?
E, claro, no bom mineirês:
- Cê tá joia?
Não era uma pergunta superficial, não era apenas uma curiosidade.
Queria saber. Queria poder falar. Queria ter permissão para dividir.
Dividir.
É difícil tentar acessar lugares não consentidos e as vezes é preciso desistir da batalha antes mesmo de entrar nela.
Principalmente quando não está certo de que se quer lutar esse combate.
Tropa recolhida e fim de guerras sentimentais.
Já não seremos mais.
Foi a primeira pergunta da noite.
Pergunta que se repetiu algumas vezes disfarçada em outras palavras:
- Como você está?
(...)
- Então, mas e você?
(...)
- Tá tudo bom?
E, claro, no bom mineirês:
- Cê tá joia?
Não era uma pergunta superficial, não era apenas uma curiosidade.
Queria saber. Queria poder falar. Queria ter permissão para dividir.
Dividir.
É difícil tentar acessar lugares não consentidos e as vezes é preciso desistir da batalha antes mesmo de entrar nela.
Principalmente quando não está certo de que se quer lutar esse combate.
Tropa recolhida e fim de guerras sentimentais.
Já não seremos mais.
segunda-feira, 4 de janeiro de 2016
Eu não posso mais falar de amores.
Não posso comer champignon.
Não posso escutar música latina.
E muito menos Pablo Alborán.
Não posso falar de fé.
Não posso imaginar olhos azuis.
Nem mesmo fazer uma caminhada sem destino.
Não ando de patins, não como patatas bravas, não medito no parque e muito menos compro um bom vinho.
Não sinto frio. Não tenho o vento. Não me alegro com o sol.
Não sou eu.
Como pode tudo se transformar em tantos nãos de uma hora pra outra?
Eu que vivi buscando o sim.
Não posso porque não estou preparada para aceitar que a vida já não é isso.
Não está certo não poder falar de amores.