Acho que queria um porre num bar sujo e todos os cigarros que nunca fumei. Voltar a hora que quiser e fazer o que bem entender, sem medos, culpas ou mágoas. Sem preconceitos. De cabeça aberta e coração protegido.
Acho que queria algumas músicas alegres nas notas de um violão desafinado. Ou quem sabe algumas notas tristes. Queria ser revolta, cuspida na cara. Queria ferver de medo, mas sem armaduras.
Mas acho que ainda quero algo comedido demais, calmo demais, espiritualizado demais, saudável demais.
Talvez eu tivesse a mania de me enfiar em capítulos de príncipe e princesa, derramando finais felizes em páginas de um diário secreto.
Só que agora, não consigo mais. Tudo perdido, tudo sem trajetória. Tudo sem achismos.
Agora eu não olho mais nos olhos, pra não ter que olhar pra trás.
Talvez seja crueldade querer de mim aquilo que não quero ou não posso dar. Porque é sempre mais fácil culpar o auto sabotamento com desculpas vazias. Será que estou me auto sabotando?
Começo achar que as respostas deveriam ser mais fáceis e claras. Por que os signos do zodíaco, com todas as suas características não conseguem me convencer? Por que um coração tão cético? Talvez se acreditasse em coisas tolas poderia haver, para mim, várias outras explicações e achar vários outros caminhos. 'Bem, hoje o meu horóscopo disse isso', quem sabe 'as cartas do tarô me guiaram' ou qualquer coisa do tipo.
Mas a verdade é que sou minha e do mundo. Porque eu tenho tentado cuidar dos meus vazios, e para isso mergulhei no fundo do fundo dos meus abismos, e tenho achado coisas tão boas quanto respirar na superfície.
Eu não chorei. Mas fiquei aos prantos. Como pode? Coração estraçalhado, dor aguda, forte... e depois o medo. O vazio.
Mas eu não posso reclamar do que estou perdendo, porque eu tenho ganhado tanta coisa quando nem precisava. E talvez seja mesmo melhor o que vem pela frente. Melhor gastar meu pensamentos com isso. O que vem. Chega logo.
Importante ressaltar: eu não chorei. Mas estive aos prantos.
Importante dizer: não era falta de saudade, era desapego. Não era falta de amor, era a certeza do tempo esgotado. Não era falta de interesse, era uma profunda ocupação com o entendimento do que era minha vida.
Nunca fui de mágoa, mas aprendi a ser de indiferença.
Mudei. Sem perceber. Sem sentir. Mas quando assustei, já não era eu quem estava ali. Não é exagero, nem escolha. Aconteceu. Sempre assim. Acontecem coisas que fogem do meu controle emocional.
Acho que eu não tinha mais tempo pra ser aquela pessoa certa. Não consigo superar minhas expectativas emocionais. Isso é frustrante.
Confesso que quando recebo tuas palavras, algo se mexe aqui dentro, arranha meu sorriso, embarga minha voz, abaixa minha cabeça, incha meus olhos de água salgada… Eu gostaria de ser uma lembrança boa.
Estou com tanta ressaca por dentro. Não sabia que existia ressaca de sentimentos. Talvez a gente só consiga percebê-la depois de muitas ressacas de álcool. Eu tive muitas. Você não pode acreditar no que virou o meu mundo.
Lembro que sentada naquele ônibus lotado, sozinha, tive vertigens de pássaro que tenta alçar voo com sua asa partida, que tenta ir para o ninho e não consegue e se pergunta como pode tudo isso estar acontecendo.
Tudo no meu canto é fragilidade e despedida. Tive ímpetos de escrever algo. Tenho tido essas explosões com frequência. Escrever sobre mim, sobre minhas impressões, minhas alegrias, minhas tristezas, coragens e medos. Tudo, tudo, tudo. Derramar tinta no papel, apertar o dedo sob o teclado. Palavras e mais palavras.
Talvez hoje, tenha que te dizer algo.
Talvez hoje, tenha que te dizer algo.
Queria dizer todas as suas inúmeras qualidades, para que você acreditasse mais em sua capacidade. Assim, livre, poderia seguir feliz. Mas você já se deu ao trabalho de me jogar na cara várias vezes, todas elas. E as minhas.
Então tudo que consigo escrever é:" Desculpe, não se pode negociar com a vida. Porque às vezes, ser um homem curado de um amor, pode ser muito melhor que ser um homem amado por mim! Porque eu sempre quis um romance, quis um filme, mas sempre acabo sendo um conto breve sem pontuações definidas. Eu queria um amor de novela, mas não aprendi que na vida real as histórias tem outros enredos. Eu, amando intensamente, talvez nunca tenha aprendido a amar. Desculpe."
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